As
parcerias são parte essencial para o melhor desenvolvimento e aprimoramento da
arte. A genialidade de alguns é tão excêntrica que não devemos trabalhar com
essa perspectiva. A maioria de nós depende de estudo e investigação sistemática
nos diversos campos da arte que se desdobra em vários outros campos do
conhecimento como o histórico e o filosófico. A suposta genialidade de alguns
funciona como pensamento natural mitificado que serve para manter um certo
status quo excluindo boa parte dos “comuns” e artistas desconhecidos. Por isso,
para muitos torna-se obsessivo ocupar o hall dos artistas excepcionais, daquele
lugar ocupado por poucos como se neste hall de simulacros coubesse apenas os
escolhidos que tornar-se-ão heróis imortais venerados por toda eternidade. É nesse
movimento que a arte e seu desenvolvimento se estanca, se encolhe e adapta-se
às exigências do mercado de uma forma geral. Por isso, o comum na verdade é a
miséria criativa e intelectual, os padrões e clichês normativos cinicamente
vendidos como novidade. O artista é um trabalhador como qualquer outro; mas é
um trabalhador que trabalha com os afetos e com a criação, o desenvolvimento de
linguagens, texturas, abordagens e estéticas e que produz uma expressão
figurativa da realidade como bem coloca o professor Nildo Viana.As
parcerias surgem para o artista como elemento imprescindível ao desenvolvimento
da sua arte e para o desenvolvimento também das relações sociais. Mas, o que
são as parcerias e como se formam? É claro que em modelos de mercado as
parcerias podem existir até como forma de impulsionar um determinado artista
ainda invisibilizado funcionando também como apadrinhamento, como é o caso de
muitos músicos. Mas não é disso que falo aqui. Por parceria entendo a
participação equânime/horizontal nas formas de fazer e produzir arte. Na verdade
só é possível haver parceria dentro dessas condições. Parceria não é o mesmo
que prestação de um determinado serviço em troca de um determinado valor de
dinheiro ou qualquer outra relação de trabalho alienada onde uma das partes
esteja em profunda desvantagem com relação ao outro. As pessoas geralmente
tendem a chamar parceria tudo aquilo que é feito conjuntamente ignorando as
condições materiais e imateriais, objetivas e subjetivas daquilo que é
produzido e dos produtores envolvidos. É claro que equalizar as condições dos
diferentes produtores envolvidos não pode ser levado ao pé da letra. Os artistas
e produtores em geral tem diferentes acúmulos, experiências e, claro, condição
financeira distinta um do outro.Mas
ainda assim, as parcerias podem e devem acontecer, pois ela é uma arma eficaz
contra a invisibilidade e precariedade que estão sujeitos os livre-produtores. As
parcerias se formam quando há um interesse verdadeiramente comum entre as
partes envolvidas a ponto de contemplar os interesses, perspectivas e intenções
de cada um. Forjar parcerias dentro de um cenário escasso altamente competitivo
ajuda não só a integrar os produtores, mas a enfrentar um forte inimigo: o
mercado e suas formas de monopólio.A
equalização das relações abrem condições reais às parcerias não bastando
somente boas intenções. Essa equalização se dá a partir de trocas onde se ajuda
a forjar um determinado cabedal de informação e conhecimentos onde exista a
carência. Não é possível parceria onde haja exploração ou um certo
aproveitamento de um sobre o outro. Isso o mercado já faz com muito mais
habilidade e proeza dissimulando suas reais intenções. Nas parcerias o
crescimento coletivo é o resultado dos múltiplos esforços envolvidos, por isso,
a capitalização é também quanto mais horizontal for possível. Ou seja, os
ganhos são também da ordem coletiva. Parcerias, portanto, são arranjos
eticamente equilibrados onde a competição é deixada de lado em prol do
crescimento individual e coletivo do(s) produtor(es) e da arte produzida, o que
guarda sua importância social.
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