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Destruir o fascismo, destruir Bolsonaro


Eleições são importante mecanismo de repactuação das sociedades capitalistas em geral organizadas por poderes públicos instituídos pela máquina burocrática estatal que na prática serve a fins privados. A manutenção desse ritual deve acontecer a despeito de toda e qualquer contradição que impere no campo social. Tudo aquilo que ameaçar o acontecimento do ritual democrático eleitoral deve ser tratado com rigor, pois no imaginário popular e até mesmo no discurso oficial trata-se de importante conquista histórica. Assim, todas as forças políticas passam a defender um bem comum supostamente equalizando aquilo que seria do interesse geral.

Num evento como este, em que um fato altamente controverso envolve um presidenciável, temos sempre a orientação de que o melhor a ser feito é não acirrar ainda mais as tensões, já que na prática ninguém quer levar uma facada ou estimular o caos generalizado gratuitamente. O jornal nacional enfatizou a fala dos demais presidenciáveis repudiando com veemência o ocorrido reverberando em muitas opiniões na internet o interesse pela manutenção de uma disputa sadia.

Ora, utilizar o ritual democrático burguês, sobretudo nos tempos atuais, faz com que a luta gire em torno daquele que melhor se mostrar capaz de administrar um estado capitalista que, dependendo do momento histórico, concede certos benefícios advindos da residual sobra de lucros da voraz economia de mercado. Se a economia vai bem, a sociedade também vai bem. Se não, são os mais pobres que pagam pelo ônus. No entanto, obviamente quem decide é quem governa e este governo não se restringe a um determinado partido político, mas ao capital como instância máxima tendo seus asseclas nas estruturas do Estado. Nesse caso, é claro que o capital favorece a classe e as frações de classe que o detém, contrariando as frágeis teorias pós-modernas. Este poder concentra-se nas mãos de um punhado de burgueses que dispõem de exércitos preparados para garantir a propriedade privada, o monopólio dos meios e a consequente manutenção do status quo utilizando de uma legislação própria para isso.

Se a crítica ao ocorrido (a facada que levou Bolsonaro) limitar-se à disputa eleitoral, a ameaça à suposta estabilidade social, tampouco a violência deixará de ser usual contra manifestantes ou aqueles que o Estado condena diariamente principalmente os que pertencem às ditas classes perigosas. Tudo isso continuará ocorrendo enquanto houver capitalismo e o fascismo aí está para acentuar essas contradições.

Se não se compreende os processos históricos que vem se intensificando desde 2008 a partir de uma leitura de classe, onde há os que exploram e os que são explorados, resta às revoltas serem administradas, canalizando as demandas ao parlamento burguês por meio de poucos representantes num exercício alienante de forças que poderiam vir a revolucionar a sociedade através da negação contumaz de toda transferência de poder através de um processo de reestruturação do mundo do trabalho.



Aceitar o jogo democrático tal como ele aí está quer dizer que temos que nos contentar com a ameaça visível do fascismo já largamente legitimado pelo Estado, mídia e a sociedade de uma forma geral. Normalizou-se o fascismo a tal ponto dele ser desejado como solução emergencial de algo que parece incontrolável, tal qual as contradições do capital em seus processos de subordinação da classe trabalhadora. Por isso, todo aquele que rejeitar solidarizar-se com o fascista Bolsonaro será visto como criminoso e uma ameaça à democracia ou simplesmente um radical irracional, que, pela sua intolerância, serão combatidos tanto pela direita como pela esquerda parlamentar.

Não se deve, em hipótese alguma, desejar o bem estar de um sujeito disposto a arrancar a pele daqueles que comumente diz aos gritos odiar. Não devemos nos espantar também com a cínica e decadente manifestação do PSOL, PSTU, PT e demais partidos reformistas (ditos de esquerda), pois é esta a sua função: compactuar com o fascismo na busca por migalhas de poder nas estruturas do Estado burguês.

Os intelectuais progressistas também dirão o mesmo: é preciso garantir a democracia, mesmo que esta se manifeste em sua forma crua como Estado de exceção. Estes intelectuais e artistas dizem que reproduzir a violência é partilhar do fascismo, sendo a pior das soluções nos igualando a eles, tecendo um frágil discurso sentimental de quem ignora a ameaça real que aí está.



Este espírito ponderado e sensato é apenas o invólucro de uma ameaça maior: o parasitismo social consequência da docilização das revoltas populares e sua consequente fragmentação. Essa sensatez é um mix de covardia, desinformação e desonestidade intelectual; nunca houve na história solução fácil para um problema de ordem estrutural como as tensões de classe.



O desafio dos lutadores hoje é opor-se a este pensamento 
sensato/suicida ao passo que enfrenta nas lutas diárias e também de enfrentamentos nas ruas contra o bloco fascista que aí se forma. É necessário pensar o uso da violência contra este setor que não pensará duas vezes em usá-la contra nós. Os partidos reformistas e pelegos de tudo farão para arrefecer e desencorajar a luta. Deslegitimarão todas as ações em prol da destruição do fascismo insistindo num possível diálogo democrático com o opressor. Os artistas e intelectuais pós-modernos, bom, estes devem ser ignorados.

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