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Entrevista com Virgínia Fontes - Análise sobre o conservadorismo



Em outubro de 2018 a 202 filmes lançou um documentário de caráter emergencial para se pensar o fenômeno do conservadorismo. O filme levou exatamente um ano sendo produzido e está disponível gratuitamente no canal da produtora no Youtube e na plataforma Libreflix. Uma de nossas entrevistadas, a professora Virgínia Fontes, discutiu o fenômeno traçando um histórico a nível mundial do conservadorismo. Como no filme não foi possível entrar todo o material por motivos claros, fiz a transcrição do depoimento e disponibilizamos para os leitores do nosso blog crônica da guerra de classes.
Virgínia Fontes é historiadora com mestrado na UFF e doutorado em Filosofia na Université de Paris X, Nanterre. Atua na pós-graduação em História na UFF, onde integra o NIEP-Marx – Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o marxismo, e na Fiocruz, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio-EPSJV, onde também coordenou e participa de curso de especialização.




Eu acho que a gente tem que pegar as origens históricas sempre para entender exatamente do que estamos falando. O conservadorismo nasce contraposto a expansão do capitalismo. E ele nasce contraposto a expansão do capitalismo naquilo que o capitalismo desorganizava as formas de dominação precedentes. No século XVIII, mas especialmente no século XIX, o conservadorismo vai ser a expressão de classes dominantes de tipo rural ou de alguns comerciantes menores contra a expansão brutal do capitalismo que desarrumava as formas de organização social. Então, obviamente, a igreja católica vai ser um dos pilares do conservadorismo no século XIX todo e evidentemente que também no século XX e continua sendo no século XXI. Enquanto de certa maneira o protestantismo vai ter um papel meio dúbio, meio ambíguo. Por um lado ele expressa um conservadorismo social, isto é, uma obediência social aliado ao aval que o protestantismo dava para a expansão do capitalismo. Portanto, ele tem um papel duplo no século XIX.
            Então se a gente vai falar de conservadorismo no século XXI a gente tem que lembrar que temos dois séculos e meio de história aí que as expressões do conservadorismo, as expressões políticas são sempre as expressões de um controle do poder absoluto sobre o social. Ele tende, portanto, a pesar sobre as formas mais de controle sobre os indivíduos, de impedimento sobre as classes sociais e de uma espécie de obediência temerosa mais do que adesão direta. É obvio que a expansão do capitalismo no século XX e em especial no pós Segunda Guerra Mundial vai trazer novas questões sociais que vão demandar respostas diversas do ponto de vista político e do ponto de vista intelectual digamos das classes dominantes. O que significa essa expansão? Uma expansão do capitalismo feita sob os escombros da Segunda Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial devasta a Europa, Ásia e especialmente o Japão (não esquecer das duas bombas atômicas no Japão) e a União Soviética sobrevive e se expande.
            Essa situação nova, o que quer que fosse a União Soviética, eu costumo deixar a União Soviética ali numa bolhinha, o que quer que fosse a União Soviética, o grande vencedor da guerra que são os Estados Unidos aliados com a União Soviética, o primeiro papel dos Estados Unidos vai ser conseguir se estruturar um acordo entre os países capitalistas contra a União Soviética. É um acordo profundamente anticomunista. Então, o anticomunismo que vai estar, por exemplo, colocado na frente (que é o macartismo), é extremamente conservador. Mas o american way of life que vem junto com esse conservadorismo do macartismo se apresenta como uma abertura pro mundo, abertura para a individualidade, abertura para a liberdade etc. Toda a cultura inclusive do pós Segunda Guerra Mundial até os anos 60 e 70, todo o cinema sobre a Guerra Fria é um cinema profundamente anticomunista, profundamente conservador numa ponta e profundamente imbricado com os valores do capitalismo na outra.
Reparem, já tem uma mudança do perfil do conservadorismo do século XIX ou do início do século XX para esse momento pós Segunda Guerra Mundial. E esse momento, que é o que eu chamo o momento de organização do capital imperialismo, colocação e funcionamento do capital imperialismo que eu não vou ter tempo de apresentar completamente agora, mas envolve uma expansão sem precedentes de uma articulação entre grande propriedade capitalista em escala internacional, envolve uma forma política nominalmente democrática, mas atravessada por entidades empresariais sem fins lucrativos atuando na política e nos espaços internacionais. Envolve digamos que o encapsulamento ou o encerramento das classes trabalhadoras dentro da política nos estados nacionais ao mesmo tempo em que se favorecem fóruns e espaços internacionais de circulação para os capitais. Essa é a condição de estruturação do que eu chamo capital imperialismo.
            É óbvio que aí dentro você tem tensões, dentro do capital imperialismo né, não estou agora pegando a parte nem do mundo soviético nem depois da revolução chinesa e da revolução cubana, mas dentro desse mundo capitalista você vai ter uma série de tensões e lutas e situações novas tanto intra-burguesas quanto entre as classes. Esse é o período chamado os trinta anos gloriosos, mais ou menos de 45 a 75. Lembrando que nos trinta gloriosos está 1968, a derrota do Vietnã, estão as lutas pelos direitos civis, está o assassinato de Martin Luther King, o assassinato de Malcon X e outros grandes líderes negros americanos. Então nessas tensões a gente pode inscrever o pensamento que o título é neoliberal, que eu pessoalmente não gosto dessa designação embora eu entenda essa designação, porque eles próprios se apresentam como ultra-liberais ou um liberalismo de um novo tipo, etc. Mas eles são liberais! O que eles fazem é retirar do liberalismo fundamentalmente qualquer compromisso, que o liberalismo já não tinha antes, mas agora retirar expressamente qualquer compromisso do liberalismo com o princípio democrático e manter somente o compromisso com o mercado. E aí eu até prefiro chamar de ordoliberalismo porque é um liberalismo mais juridicizante, mais voltado para uma definição constitucional de defesa da propriedade capitalista contra qualquer outra circunstância.
            Isso aí faz parte das tensões internas intra-burguesas nesse processo principalmente da expansão capitalista do pós-45, que vai ter o maior ímpeto com a eleição da Thatcher, do Reagan, e aí sim vai se apresentar como neoliberalismo no mundo. Muitos analistas vão considerar que o neoliberalismo é a derrota do estado de bem estar social e são grupos de capitalistas que sempre detestaram o estado de bem estar social então, portanto, estariam fazendo a crítica. Eu não concordo com essa leitura. Eu acho que esse ultra-liberalismo nasce da expansão daquele capitalismo sob a égide do estado de bem estar social; o estado de bem estar social nunca foi internacional, ele sempre foi limitado a um grupo de países e assim mesmo, mesmo no interior daqueles países muitos setores populares não tinham acesso aqueles direitos, sobretudo os imigrantes. Quase todos aqueles países que nomeadamente tiveram estados de bem estar social exploravam barbaramente trabalhadores em colônias, enfrentaram guerras contra os colonizados para impedir a descolonização, basta pensar o caso belga que é um dos casos mais terríveis de devastação na África, no antigo Congo Belga que foi um negócio tão vergonho que eles nem falam ou o caso francês com a Argélia. Sem falar do caso francês com a Indochina e depois os Estados Unidos com o Vietnã ou na Coreia do Norte onde eles jogaram mais bombas na Coreia do Norte do que em toda a Segunda Guerra Mundial! É uma coisa muito impactante essa mescla de anticomunismo e de uma situação política de contensão de novo tipo que emerge no pós-Segunda Guerra Mundial.
Então o que se chamou de neoliberalismo ele aparece apenas como sendo alguma coisa que estava contida... não estava contida nada, ele era a forma política da expansão do capitalismo ali e vai se ampliar fazendo apelo ao voto e isso é uma coisa importante. Apesar dele ter nas suas formulações, digamos assim, uma redução do papel da democracia, Thatcher, Reagan e uma boa parte das medidas chamadas de neoliberais, foram implementadas através do voto cooptando uma parcela brutal da esquerda para a expansão do capitalismo e o exemplo maior é Toni Blair na Inglaterra, o Partido Socialista Operário Espanhol, o PSOE, na Espanha e o próprio PT no Brasil que é um deles, um desses elementos.
Agora tentando voltar para o conservadorismo. Ora, a expansão do capitalismo, das relações sociais capitalistas, das expropriações é incessante no pós-45. A derrocada da União Soviética agrega 200 milhões de pessoas a esse mercado de força de trabalho e de extração de valor e depois a própria atuação do partido comunista chinês vai integrar mais um bilhão de trabalhadores chineses ao mercado internacional ainda que com limites com algumas reservas, exatamente porque é um partido comunista, mas um partido comunista pró-mercado, pró-capital e pró-expansão do capitalismo.
As tensões e lutas no cenário internacional principalmente depois dos anos 80      se tornam cada vez mais complexas. Elas são cada vez mais internacionais e conter essas lutas nos espaços nacionais é cada vez mais difícil e ao mesmo tempo elas vão ficando cada vez mais acirradas nos espaços nacionais. Uma parte delas não tem solução só no espaço nacional; alguns exemplos evidentes, o racismo não é solucionável especificamente nos âmbitos nacionais. Ou você promove uma igualdade em escala internacional ou as migrações ou imigrações devidas a pobreza reconstituem novas formas de desigualdade a partir de diferenças nacionais de língua, de cor de pele, de formato de olho, etc., que geram novos racismos. A gente está assistindo isso na Europa. As necessidades das massas populares e da classe trabalhadora vai ficando cada vez maior em escala internacional. Elas estão contidas nos cenários nacionais, o que a gente está assistindo e o capital circulando nos cenários internacionais.
Ora, uma vez que eles estão devastando, e aí eu não estou falando de neoliberalismo, eu estou falando do capital imperialismo, da expansão do capitalismo e dos seus diversos anexos e arranjos e mesclas e amálgamas para a sustentação disso, hoje em dia esses amálgamas são fortemente manipulados pela imprensa (e não só pela imprensa brasileira, pela imprensa internacional, embora a imprensa brasileira seja ainda pior, ela é o modelo do pior em escala internacional porque é uma imprensa completamente manipulada); embora isso seja completamente manipulado pela imprensa, é impossível que essa escala de manipulação ou que essa escala de repressão sejam capazes de conter o ímpeto dessas lutas que vão saindo. Então você tem várias coisas crescendo simultaneamente. Um aumento da violência de Estado brutal, e isso vem sendo trabalhado pelo Agamben, por todos os autores que trabalham com estado de exceção, etc.
Por outro lado o falso discurso contra o Estado do pensamento liberal. É completamente falsificado porque captura o Estado para o capital e diz que não quer mais Estado! É até a ideia do libertarianismo ou de um anarquismo liberal é completamente falsificado! Porque significa ter um Estado completamente ou majoritariamente comprometido com a reprodução do capital. A gente está assistindo agora isso de maneira mais exacerbada no caso brasileiro com o governo Temer.
Eu tô tentando chegar no conservadorismo mas sem tentar fazer uma linha de separação do conservadorismo para as outras tendências porque eu acho que as grandes massas populares têm condições de entender a sopa de letrinhas que estão tentando empurrar goela abaixo dessa classe trabalhadora como se fosse a verdade das coisas. E ela precisa enfrentar isso. Então, ora, aumento da violência, captura dos recursos públicos para o capital, aumento do convencimento numa escala brutal, eu falei da mídia, mas não é só a mídia. Há uma quantidade enorme de entidades sem fins lucrativos, boa parte delas, a maior parte delas financiadas por grandes empresas atuando ali onde emerge luta popular ou luta cultural ou luta de setores mais próximos de setores populares atuando para impedir que aquelas lutas se tornem lutas sociais de grande amplitude. Então reparem, aumento da violência, aumento do convencimento, manipulação da mídia, manipulação das lutas, intromissão do Estado dessas entidades. Mesmo isso não é capaz de conter as necessidades e reivindicações de massas crescentes que dependem de um mercado no qual elas estão essas massas permanentemente colocadas como alvos dos processos de austeridade, de alvos dos processos de controle, alvos do extermínio, alvos da violência.
Próximo item que vai ser super importante: a atualização das formas religiosas de convencimento e conservadorismo. Essas... elas vão atuar, e já tem muitos estudos sobre isso, no caso brasileiro a expansão da teologia da prosperidade que vem direto dos Estados Unidos que tem muito pouco a ver com uma relação qualquer com qualquer divindade. Tem a ver com resolver problemas sociais imediatos na base da mágica, do passe de mágica, da aguinha mágica, da toalhinha mágica e sei lá mais o que mágico. A base é cristã mas a gente já vê que é uma, digamos assim, são práticas sociais de adequação de massas populares reivindicando coisas através de modalidades adequativas, conformativas impedindo exatamente que se pense sobre a configuração do mundo. São essas massas de trabalhadores que produzem tudo que está no mundo. Câmera de filmar, cadeira, copo, não tem nada disso que tenha nascido da natureza.
Ora, é nesse bojo dessas tensões e dessa dificuldade de segurar ou de conter essas lutas em cenário internacional que a gente vem assistindo o proto-fascismo. O crescimento de um proto-fascismo. Ano passado em 2017 eu andei perguntando a vários intelectuais europeus o que eles achavam se eles viam uma chance do fascismo reaparecer na Europa e alguns deles me disseram que não. Que a modalidade atual é profundamente distinta do fascismo. Eu tendo a estar de acordo com eles. Não é possível que bases sociais tão diversas gerem a mesma figuração política, mas é muito parecido e o que eles não alertaram foi para o aumento das tensões intra-capital imperialista. Ou em outros termos tensões inter-imperialistas que estão crescendo na atualidade. E é no bojo dessas tensões que classes dominantes regionais como as europeias ou nacionais como as dos Estados Unidos que não são mais nacionais, são locais, mas que são daquele país, que classes dominantes podem fazer apelo à classe trabalhadora para defender o capital daqueles países. E isso a gente tem que estar sempre atento porque essas são as formas de expressão tipicamente fascistas enquanto classe dominante em torno da defesa “nacional” mobiliza classe trabalhadora e a gente tem elementos de proto-fascismo hoje em vários lugares do mundo a começar pelos Estados Unidos sobre Trump. São talvez o mais preocupante porque ele encontra uma base já de movimentos de extrema direita como o T-Party, uma base de extrema direita, extremamente violenta, racista, sexista e que tende a colocar no outro a culpa do próprio fracasso. No caso os trabalhadores brancos que é diferente da proposta do capital levada por Trump, porque ele é uma proposta do capital. A gente não pode desconsiderar isso.
Então, portanto, no caso internacional há de fato um crescimento de um peso conservador, isto é, de violência e controle sobre as massas populares ao lado da expansão do capital e da defesa da expansão do capital de cunho liberal. Essas duas formas são tensas. Elas não são idênticas. Elas têm tensão entre elas, mas em caso de qualquer risco tendem a se unir. No caso brasileiro a gente têm este triste espetáculo desde todo o processo do impeacthman da Dilma com as burguesias em torno do pato da FIESP, as igrejas neopentecostais fazendo coro e recebendo dinheiro para isso, portanto uma aliança completamente espúria em nome de um certo liberalismo que de fato não é liberal. Ele é liberal. Ele está buscando reduzir o Estado. O que ele não tem é nenhum compromisso com nenhuma área específica. O compromisso dele é com a expansão do capital. E isso que a gente tem que entender. O pensamento liberal tem compromisso com a expansão do capital. O que eles chama de liberdade é de fato necessidade, mas o compromisso dele é com o capital.

Arthur Moura – E o MBL, professora? Pode falar um pouco sobre?
O MBL é uma coisa interessante. O MBL recebe financiamento direto do exterior. Para entender o MBL a gente têm que voltar para 2013.




2013 é para mim uma expressão das lutas populares em grande escala no país. E é expressão de alguma forma do cansaço com relação a uma política levada pelo PT em que há verbas formidáveis, faraônicas para a copa do mundo, para as olimpíadas, para as grandes empreiteiras, o BNDES financia o capital folgadamente e os serviços públicos, os salários, etc., estão parados. Essa expressão que mostra claramente o descontentamento com o PT e com as possibilidades que o PT poderia ter feito assusta. Assusta a burguesia. Tem que lembrar sempre como começa isso; começa com o movimento do passe livre em São Paulo com a polícia do Alckmin, se eu não me engano já era o Alckimin, batendo na população e nos jornalistas ela bateu indiscriminadamente em todo mundo e foi contra a violência e contra o aumento da passagem que 2013 se alastra no país. Então, portanto, a origem dele é uma origem de classe é uma origem popular, eu não tenho nem dúvida disso. Na hora que ela se alastra ela assusta. Assusta a globo, assusta a mídia, assusta as classes dominantes e assusta internacionalmente. No caso brasileiro essa é uma situação bem complexa. O Brasil tem um papel muito importante no conjunto da América Latina e no capitalismo no cenário internacional. Ele não é um país pequeno.
Sobre as manifestações populares, que aí a gente vai assistir uma tentativa de cavalgada dessas manifestações populares por uma série de movimentos. Isso se chama luta de classes. Toda vez que as lutas populares crescem vai crescer também a reação burguesa, a violência burguesa, etc. Não imaginem que quando aumenta as lutas populares a burguesia fica boazinha e aceita. E a gente vai assistir ali, o que? O surgimento ou pelo menos o aparecimento de grupos treinados para bater em militantes que iam com soco inglês. Grupos treinados para dissolver a manifestação por dentro de alguma maneira para-policiais; vai assistir um peso enorme da mídia no sentido de tentar pautar as manifestações e alguma das bandeiras que eram bandeiras populares podiam ser torcidas como bandeiras anti-populares. Uma delas foi a bandeira anti-partido e anti-sindicato. É compreensível que os setores populares estivessem com raiva dos partidos, estivessem com raiva dos sindicatos, isso faz sentido. O oportunismo da direita é pegar isso para eliminar as formas de organização especificamente populares. O MBL é uma dessas organizações que vão crescer na sua ação direta financiada, porque tem que ter recursos para isso. O que é muito complexo para os setores populares é razoavelmente fácil para os setores dominantes ou para os seus prepostos. Primeiro que eles não tem medo de ser presos, porque eles são amigos da polícia. Eles têm costas quentes. Dois, eles vão para o enfrentamento e três eles pagam quem vai para o enfrentamento. Não são eles que vão. Eles vão terceirizar. Eles se comportam como pequenos capitalistas da luta contra a classe trabalhadora.
O MBL recebe dinheiro empresarial e recebe dinheiro empresarial dos Estados Unidos e de grupos da extrema direita americana. Eu não chegaria a dizer que recebe dinheiro do governo estadunidense porque eu não tenho provas para isso. Não é impossível que o governo americano dê dinheiro para tudo quanto é tipo de organização de direita. Mas o que eu acho que é fundamental é entender as clivagens políticas. É da extrema direita americana que vem o dinheiro para esses grupos. Como os irmãos Cook que tem outras fundações nos Estados Unidos ou do T-Party ou dos grupos supremacistas brancos nos Estados Unidos que de alguma maneira vão favorecer esse tipo de atuação. Não só o MBL, Revoltados Online, Vem pra Rua, são vários grupos que sobem; Olavo de Carvalho já tem uma outra trajetória que é uma trajetória anterior. Ele já vem de antes. Ele vai ser convocado nesse momento como uma espécie de liderança intelectual para estes grupos. Ele é um intelectual orgânico do capital, sem sombra de dúvidas. Mas não quer dizer que ele seja o representante do conjunto dos capitais.
Nessa escala de expansão do capitalismo as próprias burguesias não são homogêneas. Elas têm interesses diferentes e elas brigam entre elas não só por conta de setores da produção, mas por conta também da escala de capitais. Os grandalhões vão estar eventualmente vão estar eventualmente contrapostos aos grandes e os grandes aos médios e os médios aos pequenos. Vai ter aí tensões de vários tipos. Só tem um ponto que unifica o conjunto das burguesias: a emergência de lutas populares. Com a emergência de lutas populares na mesma hora somem as diferenças burguesas principalmente no caso brasileiro somem as diferenças burguesas e é pau! É ir pro pau. Não é mais possível ir para o pau de maneira direta. Então portanto aqui vai pro pau no sentido de vir Força Nacional, polícia com uma brutalidade, esses para-militares que estão dentro das manifestações. É força, é uma máquina de convencimento enorme e vai ser o aperto econômico que dificulta o processo organizativo popular. Evidentemente que se você não tem dinheiro para passagem é muito difícil participar de uma manifestação longe. No Rio de Janeiro ida e volta para Campo Grande tá em torno de R$40,00. É muito dinheiro de passagem. É muito dinheiro.
Esses grupos é até interessante de observar que eles cresceram muito enquanto ascende o movimento popular. Na medida em que o impeachmant da Dilma é eliminado e ascende o Temer e fica evidente que se tirou... eu não sou pró-Dilma, mas se tirou uma presidente que não era corrupta para botar um corrupto no lugar! Que aliás era o vice dela. Quando fica evidente isso, o grupo do Cunha, etc., e tem outras questões que são as questões da Lava Jato, vai tendo uma redução brutal da adesão denovo a política da massa da população e nessa o MBL também cai. Revoltados Online também descem. Eles perdem. A diferença deles para as massas populares é que eles têm dinheiro para se manter. Então eles vão continuar mantendo profissionais para fazer propaganda para fazer organização anti-classe trabalhadora. Mas essa é uma diferença que se chama luta de classes. A luta de classes é profundamente desigual. O pequeno grupo de capitalistas têm um volume de recursos gigantesco todo ele resultado do trabalho da classe trabalhadora que é enorme e não fica com aquilo que produziu. Tá certo?
Então essa ascensão do MBL está muito ligada a ascensão das lutas populares e ao impacto que o conjunto da burguesia têm dessas lutas e direciona recursos para isso. Nesse momento eu diria que o conjunto das burguesias brasileira está espalhado nos recursos que oferece para isso. Até porque os recursos que a burguesia dá para a organização política burguesa não são só dela. Em parte são recursos públicos porque as entidades sem fins lucrativos se sustentam inclusive porque não pagam imposto de renda sobre uma parcela dos recursos que doam para as entidades filantrópicas. Então você repara que assim são recursos públicos que são deslocados para políticas privadas organizadas por entidades sem fins lucrativos, porém, burgueses. Elas estão espalhadas agora numa série de práticas, mas mantém seus grupos mais de ataque preparados para as eventualidades. Então o MBL e o Millenium é um desses. Millenium, por exemplo, agora anda quietinho. Já não se escuta mais eles o tempo todo. Continuam com seus recursos, com seus intelectuais para os momentos em que um ou outro seja mais importante para atuar. O movimento todos pela educação continua super ativo controlando cada vez mais as escolas públicas do país, formulando as políticas educacionais o que é um abuso inadmissível e que as escolas públicas estejam sendo geridas, gerenciadas e organizadas por grupos do capital dentro do Estado! E agora inclusive selecionando professores, selecionando diretores, definindo currículos, definindo avaliação de professores, formando professores, etc. Isso é quase um escárnio para as lutas populares históricas pela educação pública que as entidades empresarias estejam atravessando desse jeito a educação pública e a educação fundamental e do ensino médio. É onde hoje estão principalmente estas intervenções.

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