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O sedutor do óbvio: sobre a farsa de Eduardo Marinho



“Não existe poder político. É uma farsa. Política faço eu no meu trabalho que não visa poder nenhum.” Eduardo Marinho

Sempre que nos colocamos a analisar algum artista e suas contradições devemos prezar minimamente pela sua história e seus esforços. Ainda que haja contradições evidentes a alteridade é um valor que deve estar sempre presente em nós, pois assim não nos destituímos de um importante valor humano que proporciona uma gregariedade livre das disputas mesquinhas muito presente na sociabilidade capitalista. Também não nos deixamos cair facilmente na destruição de reputações e difamações gratuitas, algo muito presente na esquerda identitária pós-moderna proto-fascista que tem somente um olho centrado em si próprio. Ainda que a crítica seja impiedosa a tudo que existe, ela deve ser no sentido de elevar aquilo que analisamos a um nível superior, como bem coloca Marx, livre de entraves desnecessários aos processos emancipatórios da humanidade. Essa é a função da crítica. Esta é a função, portanto, deste texto.
Em primeiro lugar: por que falar de Eduardo Marinho? Com que objetivos gastaremos essa energia? Falo no plural porque este texto é uma síntese de um debate que já existe, somente ainda não tinha sido organizado. Adiante. Não seria uma perda de tempo? Ou simplesmente clamar por uma atenção num momento tão delicado e catastrófico quando existem questões mais urgentes como o que estamos vivendo agora neste período de pandemia? Ou projetar ainda mais um sujeito que vem prestando um completo desserviço no campo das ideias e práticas sociais confundindo as mentes e os corações levando as pessoas a um completo subjetivismo estéril do ponto de vista de uma necessária transformação social que é desacreditada de forma veemente pelo próprio e consequentemente pelos seus seguidores? Penso que a necessidade se dá justamente por todo debate levantado pelo próprio Marinho principalmente os de caráter político que vem gerando grande repercussão em suas falas, palestras, vídeos, filmes, etc. E mais do que isso. Devemos pensar seriamente sobre os efeitos dessa influência entre aqueles que estão em período de formação crítica e subjetiva que passam a construir (sem mesmo antes ter tido acesso) um completo desprezo pela ciência e universidades. Que tipo de subjetividade estamos criando? E na questão social qual é a dimensão do problema colocado? Quais são as suas contribuições e prejuízos? A relevância, portanto, está no quanto podemos ampliar o debate até mesmo como forma de não ratificar essa forma narcísica.
Como ainda se carece de posições críticas avaliando suas assertivas é necessário se colocar a pensar sobre suas posições políticas que em última instância defende o próprio estado de coisas que tanto critica em seus discursos. Não se trata, portanto, de querer aparecer mais do que o guru-hippie até porque aqui não há nenhuma obsessão pelo espetáculo midiático ou virtual. E diante do agravante do momento atual torna-se ainda mais necessário visto colocações da ordem do absurdo proferidas por Marinho que propagam teorias conspiratórias sem qualquer base científica ancorando-se somente em seus achismos, mas que infecta um público grande que passa a reproduzir tais posições baseadas no seu referencial. Por isso, faço este debate em tom de ensaio, mas ampliando sempre que possível para um entendimento histórico, sem muita preocupação com a sua figura em si, mas com o que ele representa e gera tendo como consequência a influência sobre mentes e corações que passam muitas vezes a incorporar alguns posicionamentos que a priori são importantes como o questionamento da sociedade capitalista, mas que logo passam a corroborar o próprio status quo que num primeiro momento visa questionar de forma contundente. Em sua retórica há um verdadeiro malabarismo que tem como função abarcar tanto setores da esquerda quanto da direita, inclusive fascistas que odeiam o comunismo e usam da retórica de Marinho para desqualificar a luta proletária.
Marinho transformou-se num guru, ídolo, símbolo de sabedoria e grandiosidade, humildade e, claro, um produto consumido. Grupos de rap como Oriente e bandas como Forfun incorporaram o guru como uma espécie de ícone. Infelizmente não posso entrar aqui no mérito dessa relação, mas isso não deixa de ser algo bastante previsível. Analisei todo este setor do rap e sua mercantilização e suas confusões em minha dissertação de mestrado “O Ciclo dos Rebeldes: processos de mercantilização do rap no Rio de Janeiro”. O rap já respira sua miséria há muito tempo. Toda essa produção absolutamente centrada em sua figura narcísica tem funcionado como um banho de água fria jogado contra aqueles que (ainda que de forma difusa) pensam numa transformação total e radical das relações capitalistas como único caminho de superar a forma-mercado e a forma-estado caminhando por sua vez a uma conformação com relação a exploração e a dominação de classe ainda que colocado em tom agressivamente crítico e direto. Como ele mesmo coloca:
“Eu não vou de confronto. Eu não sou contra essa sociedade. Eu sou a favor de melhorar essa sociedade, de lapidar e transformar ela numa sociedade humana. E isso leva muitas gerações. Não vai ser eu quem vai mudar isso. Eu não tenho ilusão de ver um mundo justo porque todo mundo que eu vi ter a ilusão de mudar o mundo sentou, desistiu e começou a esculachar os novos. A gente não vai mudar o mundo, a gente vai participar da mudança. A parada é escolher como participar. Por conta própria!”
A própria ideia de observar e absorver evidencia uma despreocupação com a construção de sujeitos sociais históricos capazes de transformação social. Nota-se que é simplesmente ignorado um debate histórico importante que é fundamentalmente a luta de classes e as contradições sociais do sistema capitalista que obriga os trabalhadores a se organizar como única forma possível de auto-emancipar-se, já que o indivíduo é incapaz de qualquer mudança a não ser a sua emancipação enquanto indivíduo. Segundo István Meszáros em seu livro “Para Além do Capital”:
“O conhecimento obtido da experiência meramente individual sempre foi considerado muito problemático pela filosofia, assim como, no campo da arte e da literatura, a finalidade do artista jamais se limitou ao registro das impressões imediatas dos indivíduos particulares. Paradoxalmente, contudo, o verdadeiro objeto do conhecimento – aquele oculto por trás da aparência ilusória – permaneceu esquivo, das “formas” de Platão à “coisa-em-si” de Kant, como se o problema não pudesse ser formulado em termos de “consciência social”: um conceito inerentemente histórico.”
Ou seja, o indivíduo pode melhorar enquanto pessoa, fazer yoga, ser caridoso, pode ascender socialmente ou fundar até mesmo uma ONG, mas a superação das estruturas de poder do capitalismo só pode ser superada pela classe trabalhadora organizada que forjará neste processo uma nova sociabilidade livre da escravidão do trabalho que visa tão somente garantir a riqueza da burguesia como classe dominante. Como coloca Mészáros, “A posição de classe de quaisquer grupos diferentes de pessoas é definida por sua localização no comando da estrutura de capital e não por características sociológicas secundárias, como o estilo de vida”. Essa mudança só pode ocorrer mediante o confronto direto deste amplo setor organizado contra as velhas estruturas de dominação burguesa como o Estado e o capital.
Diversas tentativas históricas de emancipação da classe trabalhadora é parte importante da história da modernidade como, por exemplo, a Comuna de Paris de 1871, a Revolução Russa de 1917 ou a Revolução de 1936 na Espanha. Todas essas revoluções só foram possíveis mediante a organização dos trabalhadores contra a classe dominante e suas classes auxiliares e isso incluiu longos processos de lutas violentas algo absolutamente distinto do conformismo da falácia da “revolução interna” pregado pelo guru pós-moderno. Por isso, existe a teoria revolucionária: o materialismo histórico dialético, que é também rejeitado e odiado por Marinho, mas que pela sua incompetência nunca elaborou criticamente sua posição contra o comunismo restringindo-se a reproduzir chacotas como fez na rádio Jovem Pan fazendo rir os jornalistas da extrema-direita fascista. “Melhorar” essa sociedade é comumente chamado reformar as condições do próprio capital que é o mesmo que perfumar merda, o que é feito de tempos em tempos devido a própria voracidade do sistema e sua necessidade de auto-manutenção. Para isso, por exemplo, temos a social democracia e mais recentemente setores pós-modernos que são um braço do neoliberalismo. Não existe condição alguma de humanizar o capital. O capital é irreformável. Desde que temos a conformação daquilo que denominamos modernidade há também a conformação de duas classes principais no processo contraditório do próprio sistema capitalista: trabalhadores e burgueses. Em outras palavras, aqueles que detém o monopólio dos meios de produção e os que vendem sua força de trabalho alienada para a reprodução do capital.
Marinho defende posições contrárias a revolucionários e revoluções. Em seu livro “Contra-revolução e Revolta”, Herbert Marcuse afirma o seguinte:
“O predomínio da consciência não-revolucionária – ou melhor, anti-revolucionária – na maior parte da classe trabalhadora é um fato notório. É certo que a consciência revolucionária sempre se expressou apenas em situações revolucionárias: a diferença consiste, agora, em que a situação da classe trabalhadora na sociedade em geral milita contra o desenvolvimento de tal consciência. A integração da maior parte da classe trabalhadora na sociedade capitalista não é um fenômeno superficial; tem suas raízes na própria infra-estrutura, na economia política do capitalismo de monopólio: os benefícios são conferidos à classe trabalhadora metropolitana graças aos lucros excedentes, à exploração neocolonial, ao orçamento militar e às gigantescas subvenções governamentais. Dizer que essa classe tem muito mais a perder do que seus grilhões pode ser uma afirmação vulgar mas também é correta.”
Dessa forma seus discursos vêm se alinhando gradativamente à direita e a extrema-direita por um lado, e alienando um setor que busca uma crítica social contra o stablishment por outro lado. Não a toa a extrema-direita tem feito uso das suas falas numa tentativa (que na verdade tem sido cada vez mais bem sucedida) de implantar seus valores e teorias conspiratórias. Não a toa também Marinho foi a rádio Jovem Pan fazer seu espetáculo deixando claro que sua ética é perfeitamente adaptável a este setor golpista desde que também lhe traga algum tipo de benefício. Não podemos deixar de ressaltar aqui que a Jovem Pan é o braço do fascismo na comunicação. Aquele que não sabe distinguir os meios por quais se atrela está com pretensões no mínimo questionáveis, pois o que se pode falar numa rádio como a Jovem Pan? Que uso se fará da sua fala? Quais disputas políticas estão colocadas quando um meio de tal caráter nos convida para expor nossas análises e visões de mundo? O que podemos ter a absoluta e clara certeza é que os interesses em jogo são condenáveis. Bourdieu sintetiza isso da seguinte forma:
“Para compreendermos realmente o que se diz e sobretudo o que não se pode dizer nestas trocas de ideias fictícias, seria preciso analisar em pormenor as condições de seleção daqueles que nos Estados Unidos são designados como panelists: estarem sempre disponíveis, quer dizer sempre prontos a participar, mas também a jogar o jogo, aceitando falar de tudo (definição exacta daquele a que, em Itália, se chama tuttologo) e responder a todas as questões, incluindo as mais bizarras e as mais chocantes, que os jornalistas se ponham; estarem dispostos a tudo, quer dizer a todas as concessões (sobre o tema, sobre os outros participantes, etc.), a todos os compromissos e a todos os arranjos para fazerem parte do grupo e para se garantirem assim todos os ganhos directos e indirectos da notoriedade “mediática”, prestígio nos órgãos de imprensa, convites para a apresentação de conferências lucrativas, etc.; cuidarem, sobretudo nas entrevistas prévias que certos produtores realizam, nos Estados Unidos, e cada vez mais na Europa também, para selecionar os panelists de formular tomadas de posição simples em termos claros e brilhantes e evitando enredar-se em saberes complexos (de acordo com a máxima: “The less you know, the better off you are”).”
Isso sem contar que tudo ali é colocado de forma jocosa e baixa. Marilena Chaui coloca a seguinte problemática:
“Como observa Christopher Lasch, no livro A cultura do narcisismo, os mass media tornaram irrelevantes as categorias da verdade e da falsidade, substituindo-as pelas noções de credibilidade ou plausibilidade e confiabilidade – para que algo seja aceito como real, basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável. Os fatos perderam lugar a declarações de “personalidades autorizadas”, que não transmitem informações, mas preferências, as quais se convertem imediatamente em propaganda. Como escreve Lasch, “sabendo que um público cultivado é ávido por fatos e cultiva a ilusão de estar bem informado, o propagandista moderno evita slogans grandiloquentes e se atém a ‘fatos’, dando a ilusão de que a propaganda é informação.”
Ora, se não se faz a diferenciação de classe para analisarmos os meios de comunicação podemos generalizar tudo e a todos. Como podemos ao mesmo tempo promover toda essa crítica contundente e gerar uma desconfiança generalizada da mídia se ocupamos o chorume da comunicação, aquela que há de mais reacionária e podre? Podemos, por exemplo, sentar no sofá do MBL ou abraçar Olavo de Carvalho. Para Marinho é tudo perfeitamente possível. Toda essa desconfiança de tudo que vem da mídia é pauta permanente da extrema-direita, que a partir dessa visão construiu seus próprios meios, entre eles a Jovem Pan, que são os que produzem notícias falsas e análises conspiratórias culpando o comunismo de todos os problemas do mundo, louvando o capitalismo como única forma de sociabilidade humana. Este vem sendo o papel histórico da extrema-direita: a contra-revolução preventiva. Mas como bem coloca Marcuse:
“Aqui, não existe qualquer revolução recente a desmantelar nem nenhuma existe em gestação. E, no entanto, é o medo da revolução que gera o interesse comum e cria os vínculos entre as várias fases e formas da contra-revolução. Esta percorre toda a gama desde a democracia parlamentar à ditadura declarada, passando pelo Estado policial. O capitalismo reorganiza-se para enfrentar a ameaça de uma revolução que seria a mais radical de todas as revoluções históricas. Seria a primeira revolução histórica verdadeiramente mundial.”

Marinho é um artista que inicialmente produz uma arte crítica e contra-hegemônica. Construiu sua carreira ao longo de muitos anos e podemos dizer que foi bem sucedido em seus projetos tornando-se um artista popular ainda que ausente nas grandes galerias ou televisões. Sua arte é independente, ou seja, desvinculada das grandes relações mercadológicas. É uma arte artesanal e não industrial. Para encontrar alguma de suas produções é necessário ir até o artista e, portanto, conhece-lo. É neste contato que as trocas são proporcionadas e o artista se coloca a falar sobre suas leituras de mundo. As conversas fluem neste contexto atraindo ainda mais o público para uma nova aquisição, seja um quadro ou uma pintura. O artista não vende a arte simplesmente. Ele justifica aquela aquisição como algo necessário do ponto de vista social e individual, pois sua vida material num primeiro momento depende dos recursos gerados pela venda de quadros, pinturas, textos, poesias, etc., que são expostas nos mais variados lugares das cidades. Muitos o conheceram no bairro de Santa Tereza, Rio de Janeiro. Eu o conheci na favela de Acari enquanto trabalhava filmando a vida cultural da favela. Apesar do seu enorme apreço pelo monopólio da palavra, a relação, num primeiro momento, é de troca e não de consumo de uma mercadoria qualquer. A arte aí possui um valor elevado. Ainda que a qualidade técnica seja limitada, suas produções não carecem de outros valores e aspectos positivos. Este tipo de arte quase não existe mais, o que torna sua expressão como algo singular no sentido mesmo que coloca o filósofo Walter Benjamin. É claro que agora, ou seja, após grande repercussão, sua arte tornou-se uma mercadoria tendo até preços mais elevados e produzidos em escala maior.
Marinho surgiu pela primeira vez na internet em 2012 através de um vídeo que um casal que estava produzindo um trabalho para faculdade gravou e quando outro sujeito foi editar achou a fala do Eduardo interessante e resolveu enviar para o Youtube, com o título "Eduardo Marinho - sua vida e seus pontos de vista". O vídeo teve uma repercussão, chegando até o diretor José Marques, que na época gravou o segundo vídeo do Eduardo também lançado no Youtube em 2012. O vídeo tinha o titulo de "Filósofo da rua - Eduardo Marinho". A partir daí, Marinho começou a ser conhecido como Filósofo da rua. José Marques iria voltar a produzir o Eduardo em 2016 lançando o filme "Observar e Absorver – Eduardo Marinho", filme que o projetou para o Brasil inteiro. É importante voltar para antes do primeiro vídeo gravado e destrinchar o que fez os produtores serem atraído para gravá-lo. Eduardo além de ser um bom orador é um mestre quando se diz respeito à psicologia do inconsciente e semiótica. É um estudioso da comunicação. Ele expõe o seu trabalho no meio da rua de forma estratégica. De longe só é possível ver rostos conhecidos como Raul Seixas, Bob Marley, Paulo Freire, Bakunin, Gandhi etc. Quando a pessoa se aproxima, ele começa, como qualquer vendedor, a convencer a pessoa de comprar. Mas ele não vende só uma arte, ele vende a si próprio, o artista, o guru. É dessa forma que ele atrai e seleciona o publico, utilizando da frustração do coletivo, a frustração de viver em uma sociedade desigual, ele joga seus gatilhos mentais, que vem sendo muito bem executado. Essa estratégia foi a origem de tudo e o fez entrar no mundo do audiovisual, aumentando o seu alcance.
Depois do primeiro filme lançado, Eduardo encontrou outro produtor para gravá-lo agora para fazer o segundo filme lançado em 2019, "Via Celestina – Eduardo Marinho", e nesse exato momento Eduardo está produzindo seu terceiro longa-metragem "Via Celestina 2". Essa fixação pelo audiovisual diz muito coisa. Eduardo encontrou no cinema uma maneira de assim como pastores arrebatar almas. Nesse momento Eduardo já ultrapassou em sua pagina do Facebook mais de 600 mil pessoas, seu perfil no instagram tem 145 mil pessoas, seus vídeos então nem se fala, são milhões de visualizações. Ele chegou na favela e principalmente na elite que consome seus produtos e banca seus filmes através de financiamento coletivo. Encontrou a formula perfeita para girar a roda de seu plano de poder. A sede do Eduardo por visibilidade é tamanha que fez ele até passar pano para agressor de mulher. Ele sabe que não é fácil encontrar por aí qualquer produtor que aceite filmar o seu plano de poder, no qual o audiovisual é fundamental. Eduardo tem a prática de submeter as pessoas às suas vontades. Por isso ele precisa de alguém disposto a abandonar a própria vida para segui-lo, filmar e montar seus filmes. E para quem foi exposto na Internet, sendo obrigado a renunciar a página com seu nome, não sobra muita coisa a não ser acompanhar um guru que lhe garante um dinheiro e audiência com seu espetáculo. É uma possibilidade de carreira artística. É o casamento perfeito do guru e do agressor.
Mesmo artistas que um dia nos fizeram pensar e apreender o mundo de forma crítica por meio de suas produções podem invariavelmente apelar para posições até mesmo antagônicas àquilo mesmo que compõe suas produções existindo aí um paralelo entre a prática e a teoria ou entre a produção e o próprio artista. Como consequência de sua eloquência auto-referenciada, Marinho expandiu-se para além da sua arte secundarizando-a em detrimento de se auto-forjar como um guru, um formador de opinião, um coach motivacional ou simplesmente um referencial reflexivo sobre as agruras do nosso tempo transformando-se numa verdadeira metralhadora de palavras e posições políticas confusas e incoerentes, ainda que sua base seja a crítica ao modelo societário hodierno. Como bem coloca Mauro Iasi em um de seus vídeos:
“Nós estamos diante de um fato que, primeiro, revela que a obra artística e o ator quando nos chega de certa forma sofre por nossa parte uma idealização. Como dizia o Marx, o produto esconde o processo. Aquilo que se expressa numa obra de arte não carrega inteiro o autor. O artista, ainda que sua sensibilidade migre para a obra de arte, não carrega as suas preferências pessoais, suas idiossincrasias, as suas características de personalidade num todo. O artista não vai inteiro para a obra. O que vai é uma parte dele que se expressa na obra de arte.”
Um artista pode se expressar maravilhosamente bem, mas ter uma relação não amistosa com os indivíduos ou seus próximos. Ou que se aproveitando de sua condição social trabalha de forma oculta em projeto ardiloso. Eu escrevi minha dissertação de mestrado sobre a cena do rap e analisei vários ídolos muito cultuados, mas que nas suas relações são completamente avessos àquilo que eles mesmos pregam. Enfim. Neste sentindo é muito comum fãs que se desencantam quando percebem que o artista é também um ser humano, portanto passível de erros e contradições. Há, por isso, uma dicotomia entre a arte produzida pelo artista e o próprio artista e suas pretensões e práticas sociais e isso se agrava ainda mais quando um determinado artista ganha projeção social. No caso de Marinho a sua projeção se tornou uma verdadeira obsessão o que fez com que este objetivo se tornasse algo central em sua vida a partir de então. Não podemos deixar de constatar aqui que o marco para a construção da sua persona foi o filme Observar e Absorver que já ultrapassa os dois milhões de visualizações. Devemos reconhecer que para um documentário independente é uma repercussão fora dos limites de muitas produções.
Num tempo de vazio de perspectivas e incertezas cada vez maiores devido a um sem número de problemas sociais fica aberto o campo para os múltiplos oportunismos que se disseminam oferecendo algum tipo de orientação, sobretudo aos desorientados, aos que carecem de formação sólida e se agarram a algum referencial de forma convicta e acrítica buscando compensar suas falhas numa tentativa desesperada de se afirmar perante a sociedade e mostrar seu próprio valor ou uma revolta difusa. A internet é um campo propício aos vícios da dependência intelectiva que muitas vezes serve para reafirmar nossas convicções do que nos fazer pensar de fato, restando desprezo às instituições como a escola, professores e intelectuais e as universidades que caem cada vez mais em descrédito sendo desqualificadas sem qualquer análise histórica das contradições que enfraqueceram sua função na sociedade. Nesse ponto Marinho deixa claro seu ódio e desprezo pelas universidades, intelectuais, militantes de esquerda e suas organizações e por fim pela própria ciência histórica fazendo coro, por exemplo, com posições mais extremadas da direita fascista que tem como mote a desqualificação completa das universidades como foco do fantasma do marxismo cultural, um completo delírio construído para gerar o medo, a desconfiança e inverter completamente a função da formação universitária.
“Você diz isso ao estudante: ele vai mudar o mundo. E ele vai procurar os grupos que se propõem a mudar o mundo. Aí vai pra UJS, passa ali dois, três anos, sai decepcionado, entra para o PSTU, entra pro PSOL, passa dois anos aqui, passa um ano e meio ali e vai de grupo em grupo sempre achando que vai salvar o mundo nessa ilusão. Mas aí o tempo tá passando. Se forma, começa a pagar conta, tem casa, tem filho e o mundo não mudou. Aí você passa para o outro lado. Isso nunca vai mudar. A parada não é mudar o mundo. É mudar a sua vida.”
E continua:
“E aí eu comecei a fazer uma revolução interna. Eu saí da universidade desistido dos revolucionários. É um bando de arrogante, bunda mole, dependente de pobre. Tem medo de tá numa favela. Não sabe nem falar a língua. A língua acadêmica foi construída para servir de cerca e arame farpado para o conhecimento ficar restrito para aquela minoria que vai administrar a massa. Aquela minoria que vai sentir superioridade para poder exercer a benevolência. Benevolência é arrogância. Arrogância não é sempre grosseira não. Pobre não precisa de ajuda. Precisa de respeito. Respeito constitucional. Ter acesso aos seus direitos. Ainda que (a universidade) tenham sede de justiça, acreditam que têm que guiar os pobres.”

Essa é uma visão completamente rasteira, capenga, pobre e até mesmo tosca sobre as contradições das universidades públicas e sobre também sua função social. A ideia de que as universidades públicas são um lixo e só falam para si próprias cheio de pessoas arrogantes que querem gerir os pobres foi construída, sobretudo pelo guru da extrema-direita Olavo de Carvalho que odeia a esquerda universitária. É como se tudo no exterior não prestasse e só restasse as pequenas certezas dos indivíduos que se auto-afirmam numa sociedade cada vez mais decadente numa busca desesperada por salvação depositando as esperanças como o próprio Marinho afirma numa auto-transformação dos indivíduos ou numa revolução interna que funciona como uma espécie de alucinação ou delírio. Obviamente que a universidade como qualquer instituição na sociedade burguesa tem um recorte de classe, ela serve claramente para satisfazer as necessidades do mercado. Dizemos muitas vezes até que ela é uma fábrica de diplomas e de certa forma é. Mas a universidade cumpre importante papel na sociedade que está claramente relacionada ao conhecimento científico, da formação de diversos profissionais que vão suprir diversas necessidades da própria sociedade como um todo e que no seu interior há grande ebulição de vida política e sabemos que há tensões de classe em sua dinâmica havendo inclusive uma luta permanente pela construção de uma universidade popular onde haja livre acesso para todos que queiram dela usufruir. A luta estudantil na Universidade Federal Fluminense, por exemplo, é um bom exemplo disso. Basta assistir, por exemplo, o documentário “UTOPIA e cidade”. A ideia de Marinho gira em torno de um saber adquirido na vivência por meio não outro que o sofrimento, glamourizando a miséria como se essa condição oferecesse uma elevação muitíssimo superior a qualquer conhecimento científico.
A máxima de que na política não existe vácuo deve ser levada em consideração neste caso, pois os gurus ocupam um lugar de poder basta perceber a função de um Olavo de Carvalho. As pessoas sempre vão buscar um referencial e isso não é um problema. Todos nós precisamos de um. Talvez até nós mesmos nos tornemos um algum dia para alguém mesmo que não desejemos isso. O problema, no entanto, está quando nossos referenciais nos escravizam ao invés de proporcionar ou viabilizar a nossa auto-emancipação. Quando nossos referenciais nos controlam exercendo algum poder de dominação nos tornando dependentes todas as sirenes devem nos alertar e a partir de então devemos lutar contra a dominação que é exercida de forma direta ou indireta. Quando as relações são instrumentalizadas para fins obscuros devemos nos atentar e nos colocar em alerta. Mesmo os farsantes conseguem dizer algumas verdades, pois eles não podem mentir o tempo todo, segundo afirma o próprio Marinho.
             A crítica tem como função aproximar os sujeitos da verdade, mas para um guru como Marinho, por exemplo, a verdade é algo repugnante e contrária aos princípios humanos. A verdade é relativa ou vista como uma criação malévola arquitetada por seres dominantes e que não tem qualquer relação com a realidade material concreta ou com os despossuídos que simplesmente consomem verdades alheias às suas realidades e devem se libertar por meio de uma ideia abstrata de revolução interna que não é capaz de mudar nada concretamente. Por isso, negar e acusar é a melhor forma de afirmar uma determinada posição e atrair os holofotes. Eu então passo a negar a mídia, a universidade, a escola, a internet, os intelectuais, professores e jornalistas. Passamos a negar o conhecimento científico e os livros, pois tudo isso não passa de artifícios criados pelos setores dominantes cifrados em seus próprios códigos, impenetrável, portanto aos comuns que vivenciam diariamente as amarguras da vida sofrida sendo a vivência e o sofrimento o tipo de experiência mais capaz de tornar o sujeito conhecedor das reais contradições do mundo. Mas como eu posso me afirmar se só nego o mundo ao meu redor? O que resta? Bom, restam apenas análises sem fundamento teórico ou científico, sem base histórica e sem qualquer método capaz de dar coerência aos meus pressupostos. Por isso eu preciso também negar e desqualificar as críticas que me são direcionadas, pois elas vêm para destruir a minha reputação e não os meus frágeis pressupostos e assertivas baseados em vivências e discursos ocos. A base é frágil, mas o discurso é arrogantemente poderoso e convincente, pois se aproveitando da uma contradição social evidente Marinho consegue transmutar a crítica para algo contra os próprios que sofrem as consequências do sistema capitalista. É um discurso cortante, mas que por fim dilacera a si próprio.
            Pensemos, por exemplo, no contexto sócio-político atual de pandemia em que temos o rápido alastramento de uma doença até então desconhecida, que surge num primeiro momento num país distante como a China e rapidamente se torna uma pandemia da ordem global comprometendo a saúde pública a nível mundial obrigando os Estados a tomar iniciativas radicais e urgentes para conter o avanço que tem um poder letal grande. Marinho afirmou recentemente o seguinte:
“E a gente se submete a valores desumanos da sociedade que são pintados com cores sedutoras. Pelo exército de publicitários e marqueteiros que trabalha na mídia, que todo dia tá aí fazendo a cabeça de todo mundo. Agora eu acordo de manhã e é coronavírus, coronavírus, coronavírus... caralho! Pneumonia mata mais do que coronavírus. Diarreia, fome mata mais do que coronavírus! Sabe qual é o percentual de mortes do coronavírus? 2,3% dos infectados. 97,7% não morrem, passa, é uma gripe. Tem mais gente que morre de gripe comum. Tem um percentual maior entre os idosos, por exemplo ou entre as crianças desnutridas. No entanto a mídia não fala disso. Esse é um problema da estrutura social. Não se toca na estrutura social. Aonde apareceu o coronavírus? Na China, né? É o inimigo atual dos Estados Unidos, é que os Estados Unidos quer derrubar. Não duvido nada que tenha sido uma sabotagem. Plantaram lá. Eu acho que isso é estratégico. Isso é jogo sujo. Isso não é uma casualidade.”
Essa é a avaliação mais desonesta que podemos fazer sobre um problema tão evidente como o que estamos passando neste momento. Como podemos afirmar, por exemplo, uma baixa letalidade como essa se em cada país o morticínio tem variações brutais? Para além disso as estatísticas oficiais ainda mais no Brasil estão muito aquém da realidade, já que até o momento o Estado brasileiro sequer disponibilizou testes gratuitos para a população. Sabemos que em países de capitalismo dependente a letalidade é muito maior e os prejuízos sociais são maiores ainda. Basta ver o exemplo do Equador. Os setores mais desprivilegiados socialmente sofrem sobremaneira as consequências da pandemia não só morrendo, mas passando por todo tipo de falta. Como podemos dizer que o coronavírus é apenas uma gripe se todos os cientistas do mundo já refutaram essa tese absurda? É importante notar aqui que a tese central de Bolsonaro para reativar a economia (ou seja, voltar ao sistema de exploração contumaz contra os trabalhadores em plena pandemia) a qualquer custo é a de que o coronavírus é apenas uma gripe. Marinho ainda miseravelmente reproduz a teoria conspiratória mais tosca de que o fato do vírus ter surgido num primeiro momento na China abre pressupostos para uma sabotagem do seu inimigo os EUA como uma estratégia de guerra. É um montante de chorume jogado apenas num parágrafo reproduzindo a ignorância e a desinformação com um tom ridiculamente professoral. A forma como Marinho rapidamente se colocou num vídeo do dia 8 de abril intitulado “Eduardo Marinho: Coronavírus / A Mídia Mente” foi também risível. O vídeo de sete minutos foi usado basicamente para mais uma vez atacar as universidades, sem qualquer auto-crítica ou avaliação séria sobre os fatos, resumindo sua defesa a sua completa descrença na mídia e sobre tudo que é vinculado.
Eduardo começa o vídeo organizando os questionamentos legítimos que surgiram após sua fala absurda e irresponsável sobre o coronavírus. Logo em seguida inicia sua defesa falando que estava tendo pouco acesso as informações, já que estava em viagem fazendo suas palestras. Tudo que o Eduardo fala é meticulosamente calculado. É preciso assistir com o olhar de quem tenta decodificar uma mensagem, pois ele monta um roteiro com gatilhos. O auge onde fica evidente sua intenção de entrar na mente de seus seguidores é quando ele resolve contar uma parábola. Nesse momento ele lembra um líder religioso. Ele nitidamente se coloca como pai e posiciona seus seguidores como filhos, justificando assim que ele como sempre está certo mas um dia poderia errar e esse dia chegou, mas não é nada demais. E o filho em questão pode ser Felipe Gasper, autor do vídeo que o confronta questionando principalmente o jeito que ele se posicionou em relação à pandemia. Esse foi o motivo principal para Marinho gravar um vídeo se defendendo. Pela primeira vez Eduardo se sente ameaçado, sua farsa apareceu. Esse vídeo de defesa talvez seja o movimento que mais evidencia a estratégia que ele usa há muito tempo, talvez porque seja a primeira vez que ele se sinta realmente ameaçado, sua imagem imaculada de guru começa se desfazer. O mais engraçado é que em todo momento realmente se porta como se não estivesse preocupado, dizendo que não liga para o que pensam sobre ele, etc. Mas, se ele não estivesse preocupado, porque gravar um vídeo se defendendo? É lógico que ele está preocupado, ele sabe que esse vídeo do Gasper pode ser o ponto de partida para surgir outros relatos. Um efeito dominó.
Há muitas questões ainda a ser debatidas sobre as falácias de Marinho. Este texto tem apenas a pretensão de introduzir questões que me parecem centrais e que vem sendo ignoradas principalmente pelas pessoas que o tem como referência de pensamento crítico. Espero não ter me alongado demasiadamente, mas eram pontos fundamentais a ser debatidos. No mais, recomendo assistir ao vídeo do Felipe Gasper no seu canal do youtube intitulado “A farsa de Eduardo Marinho, o guru hippie”.

Comentários

  1. bom texto mas "Espero não ter me alongado demasiadamente..." 5656 palarabras...aff

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    1. Uma fraude, um homem epistolar com tanto ressentimento, fazendo apologia do não ter nada, agora vira o guru de um bando de gente que consome e quer dormir c consciência leve. Uma conversa dele com um professor da Universidade federal, um cara que ganha um horror para levar adiante discurso de ódio contra o sistema, criando outro.

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  2. Nossa, muito interessante!
    Gostaria de ler sua tese de mestrado, é possível?

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    1. Sim. Basta digitar no google: O Ciclo dos Rebeldes: processos de mercantilização do rap no Rio de Janeiro.

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  3. Estude a #urs união revolucionária social.. E seu projeto #sonar, um novo sistema.

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  4. Forçou demais a barra, o Eduardo Marinho não é dono da verdade mas é coerente, estranho é sua obsessão de tentar denegrir a pessoa a todo custo, distorcendo algumas atitudes do mesmo. Se não concorda com algumas de suas posições seja específico, com certeza, até você, concorda em muitas coisas que ele diz.

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    1. usou denegrir, perdeu a moral. passo.

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    2. Tive a mesma impressão Flávio. Muito ataque raso, e com uma repetição exagerada que tornou o texto longo e cansativo. E o pior, a cada ataque, não o fazia sobre uma frase dita pelo Eduardo, mas sim sobre suas próprias interpretações do que o Eduardo teria dito ou agido. Sobre a jovem pan q todos concordamos que é uma porcaria de direita, como TODA mídia corporativa, quantas figuras políticas de ESQUERDA passaram por lá? Foram inúmeras. No texto conheci mais do escritor pela sua escrita do que do personagem citado.

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    3. Como é que tu chama de coerente um cara que diz que a mídia não presta e só diz mentiras, mas daqui a pouco tá sentado na bancada do mornig show da Jovem Pan que é a pior canalhice midiática que já existiu? Cara, pensa um pouco por favor, cara! Olha as contradições , se não sabe o que é isso procura no Google aí, faz jus disso que tu tem na cabeça que se chama cérebro!

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  5. Esse guru de nada e só mais ressentido e anti intelectual. Raso como uma poça d'água. Generaliza tudo mídia, universidades. Para ele tudo e corrompido e não presta. Seu discurso, cheio de certezas e um prato cheio para uma direita maluca que ataca a academia de forma covarde. Vive num mundinho paralelo, romantiza a pobreza e tenta passar uma humildade palha. Na verdade é um arrogante sem conteúdo.

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  6. Também acho que o autor do presente texto forçou demais. O texto parece mais uma falácia ad homini. Não sou seguidor do Eduardo Marinho. Concordo com algumas coisas que ele diz e com outras não, mas a partir disso 'demonizá-lo' - como o texto parece fazer - é covardia. O texto parece tentar convencer o leitor de que Eduardo é um dos grandes responsáveis por essas subjetivações - apáticas, domesticadas, insensatas, quase que totalmente adaptadas ao status quo e ao modus vivendi - que vagueiam pela sociedades. Não creio que E. Marinhos um demônio com tamanho poder. Creio, sim, que a Universidade seja um dos verdadeiro produtores dessas subjetividades mesquinhas que pululam no mundo. A esse respeito direciono os interessados ao texto 'Filosofia, Currículo e Subjetivação' : https://aporexia.wordpress.com/2017/02/05/filosofia-curriculo-e-subjetivacao/

    Eduardo Marinho é somente uma pessoa lutando por um lugar ao sol e à sombra. Se o autor do texto anseia pela formação da consciência do povo, de subjetividades críticas, afirmativas, propositivas, revolucionárias, contestatória etc, ele deveria ir muito além de Marx, de Lukács e dos marxismos e ir onde o povo está. Poderia começar realizando a proposta do filósofo e pedagogo brasileiro, Paulo Freire.

    E aí, anima? Ou vai ficar estagnado na crítica livresca?

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    1. Aládio, vou te responder como forma de não deixar um vazio aqui, pois já que você teve o trabalho de ler o artigo é razoável que eu me coloque, mas não tenho qualquer intenção de te convencer do contrário. O que está claro é que a sua interpretação só confirma a crítica apontada no texto. Não há qualquer tentativa aqui de construir caricatura sobre o sujeito analisado. Aliás, foi oportuna a crítica ao Marinho, mas não podemos sobrevalorizar sua figura narcísica. O que mais me interessou foi discutir as ideias e não o indivíduo. Mas a partir do momento que este indivíduo ganha projeção social e suas ideias passam a ser reproduzidas em larga escala é escusado dizer que precisamos debater certas coisas sim, mas não se trata de construir uma figura demoníaca do analisado. Essa dicotomia tosca entre o bem e o mal é você que está colocando. A questão aqui me parece política e social. É claro que o Marinho coloca críticas verdadeiras, mas isto serve como embrulho para disparar uma série de disparates e teses conspiratórias de quinta categoria. Estamos aqui debatendo política a partir de figuras públicas. Não há nada de anormal nisso. Esse pensamento de "se esconder em cultura livresca" eu devo lhe dizer que sequer levo a sério, pois me parece algo retrógrado e ignorante. Todos nós sabemos que são nas experiências passadas que os sujeitos se afirmam socialmente e que buscam elevar os seus sistemas a condições mais justas e humanas. Eh nesse passado que podemos atestar os antagonismos de classe e de nada adianta o discurso da bondade interior, de fazer o bem, de negar as universidades se você não constrói um projeto político antagônico ao capitalismo a ponto de superá-lo. Marx e Lukács foram sem dúvida dois grandes pensadores e que dedicaram suas vidas à emancipação da classe trabalhadora. Não eram filósofos separados da classe.

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    2. JKKKKKKKKKKKKKKKKKK
      Eduardo marinho como pensador é uma bosta, mas eu tb não aguentei ver tu citando lasch e sendo exemplo do que o mesmo critica em the culture of narcisism, em todo texto tu toma direita como mote cara
      Olha só isso:
      "A ideia de que as universidades públicas são um lixo e só falam para si próprias cheio de pessoas arrogantes que querem gerir os pobres foi construída, sobretudo pelo guru da extrema-direita Olavo de Carvalho que odeia a esquerda universitária. " o autor tá na neurose kkkkkkk

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  7. Excelente texto. Eu sempre admirei os vídeos do Marinho, mas um tempo comecei a ter uma análise crítica sobre os vídeos dele e após ver um vídeo do gastar, cheguei até aqui. Ótimo conteúdo. Parabéns pela contribuição eficaz desse texto.

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    1. também, queria eu ter visto o vídeo do gastar antes

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  8. Texto impecável! Coaduna com meus pensamentos. " O PENSADOR " COM FRASES DE EFEITO, sem nenhuma responsabilidade moral e ética com seus próprios filhos, reclamava de seus privilégios e e levou seus filhos a morar na rua, que lógica de proporcionar algo aos seus filhos sem os mesmo terem o permitido a isso. Sujeito facil de ver em suas falas a redundância. Navega em todos textos literários diz em várias falas que não lê defunto europeu kkkkk esse é patético mas cita vários kkkk e tanta superficialidade em um unico . Problema era sua família, escola ,trabalho, faculdade,esposas etc porra o cara tá sempre certo o erro e dos outros nunca dele as brigas com suas ex mulheres o cara sempre certo ptqp esse é um picareta moderno .

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  9. Não conheço o Eduardo Marinho e nem o autor do texto, vim pela polêmica de um cara "conapiranóico" minimizando a COVID-19, um Youtuber (que também não conhecia) apontando os erros da fala, o conapiranóico dando uma desculpa qualquer, má ainda assim uma desculpa e o YouTuber criticando a desculpa.

    Esse preâmbulo é importante para dizer que não tenho interesse em qualquer uma das partes.

    Fiquei com a sensação de que o texto, mesmo tão longo, pula do preâmbulo (muito bom por sinal) para um ataque ad hominem quase que gratuito no final, não fazendo jus ao cenário previamente construído.

    Certamente vou procurar alguns vídeos do suposto filósofo para tirar minhas próprias conclusões, mas ao passo que o texto cita o Youtuber que me trouxe até aqui e ambos fazem críticas contundentes conta o cara, fiquei com um pé atrás em relação a essa crítica. Até porque, no vídeo, o Youtuber citado usa a frase "usou a mídia para desqualificar a mídia" como argumento para apontar uma suposta falácia nas desculpas do Guru, e qual não foi minha surpresa ao chegar aqui, no texto que ele indicou e ver uma crítica a um canal de direita. Ou seja, o Youtuber que "desbancou o guru" coloca todo tipo de mídia num mesmo balaio para legitima-la e o texto que ele indica, tal qual o guru, faz críticas contundentes a determinados "tipos" de mídia.

    Agora a minha crítica contundente pra perpetuar o ciclo: pra mim, isso está parecendo mais uma "treta de internet" do que uma análise crítica das idéias.

    Abraços!

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  10. Os intelectuais se coçam de raiva quando uma pessoa simples fala com convicção.

    Sinceramente, não o vejo como farsa ou engodo e sim como um cara que tem uma linguagem simples e quer viver do seu jeito, isso não me fere em nada.

    O conheci há muitos anos pq ele veio duas ou três vezes ao centro de arte que dirijo mostrar e vender desenhos e conversamos um pouco. Depois disso nunca mais o vi.
    Ano passado vi alguns cartazes com suas ideias e percebi que ele tinha se tornado um palestrante e cheguei a ver apenas um vídeo dele com tema existencialista.

    Agora mesmo acabei de ver dois vídeos dele de curta duração para entendê-lo melhor e percebi que ele tem pensamentos existencialistas que se assemelham ao taoísmo, ao zenbudismo, aos betniks, hipies e até ao marxismo. Um filósofo popular e radical que por sua simplicidade, espontaneidade e convicção, pode ser rejeitado pela simplicidade. Mas, obviedade pra quem, compreende?

    Então, pelo que vi, essas obviedades não são maléficas, pelo contrário, ele fala da importância de se dar valor ao relacionamento, da desconstrução de uma visão exclusivamente materialista e egóica, da hipocrisia da sociedade e de suas doenças como consequência desse materialismo.
    Realmente to querendo entender a raiva do garoto do You Tube e de outros em relação as ideias dele. Pode até ser que, como o rapaz disse, ele despreze a luta política, por exemplo, mas isso faz dele um farsante? Ou essa rejeição a ele está ligada ao fato dele não se encaixar num parâmetro social e acadêmico aceitável, e não citar metodologias, conceitos, nomes e nomenclaturas que daria o aval histórico e conceitual?

    Concluindo, acho que devíamos ganhar nosso tempo atacando o outro lado, com os verdadeiros farsantes que tanto prejudicam a sociedade com manipulações políticas, religiosas e de poder.

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  11. Texto cansativo movido pela intenção de denegrir Eduardo Marinho. Uma longa construção textual que desaba na chatice e o pior lamentável e vergonhosa citação no final ao citar Felipe Gasper como referência. Os vídeos de Gasper no tocante a Eduardo Marinho são tão ridículos quanto patéticos!!!

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  12. Ridículo essa tese ou "textão" ou como queiram chamar. De pessoas que escreveu tudo isso, o mundo está cheio, por menos pessoas como esse que teve a capacidade de perder o tempo, bem precioso que temos. Por mais Eduardo Marinho no mundo e principalmente no Brasil e por menos pessoas como este sujeito que teve a ousadia de escrever tudo o que escreveu.

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  13. Apenas um comentário elogiando este cansativo e frustrado texto, que mais parece do garotinho falando mal da mina que largou ele pra ficar com o valentão da Escola.. fala que a mina é fria, que não goza, que o carinha é valente mas é brocha... como perder tanto tempo co tanta bosta, tentando ser superior em palavras, tentando mostrar inteligência e Cultura, tentando provar a todo custo que é mais e melhor que o todo, enquanto o alvo, Eduardo Marinho, prega pra paramos com essa concorrência. Qual o erro, onde o "pregador de rua" está errado? Só se for nessa ordem bizarra, anti-tudo que vocês de Esquerda se apaixonam, pensam que suas Revoluções eternas e cheias de ópio vão inflamar aos incautos, jamais! Graças à Deus, todos os teus ícones perdem as forças neste novo Milênio, sim, é o Aeon do questionamento, mas não o que apodrece, como os de Bandeira Vermelha, mas o que agrega, melhora e não escarra!

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  14. Francamente, não tive vontade de ler a integralidade do texto. Achei recheado de obscuridades, com frases longas e que poderiam ter sido escritas em 4 ou 5 palavras.

    O Autor cometeu erro crasso ao, logo no título, deixar clara a conclusão de sua opinião pessoal, o que já imprimiu ao texto a sua absoluta parcialidade.

    Tentou, após receber críticas bem fundamentadas, dizer que sua análise repousaria apenas sobre as ideias do mesmo e não sobre a pessoa do artista, mas, sem sucesso.

    Em mina opinião estritamente pessoal, me perdoe, ficou parecendo, contraditoriamente, mera busca de visibilidade.


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    1. O cara deve ser relevante mesmo pra escrever uma página inteira.

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  15. Ratifico a posição do colega, um cara que tem uma página inteira de argumentos teóricos construídos por um acadêmico especializado deve ter o seu valor né? Acho que continuo com Marinho e suas ideias "inúteis" em detrimento a pompa e circunstância da academia que insiste em se isolar do mundo real , se mantendo na segurança de suas salas com seus títulos postados na parede.

    Mas isso é a minha opinião, é , goste ou não , eu tenho uma

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    1. Impressionante. Vocês, seguidores do Marinho, não dizem abosolutamente nada, assim como ele. Ele realmente tá formando discípulos fiéis e fidedignos.

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  16. Pra que % da população você escreve?...

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  17. O que me parece, que quando diversas vertentes elitistas minoritarias sejam quem forem se sentem constrangidas e ameaçadas em seus absolutismos arrogantes superiores , não aceitam as reflexões que muitas vezes se tem sentido sim , o problema é que uma minoria é intolerante , prepotente, egocêntrica e acham que tem a verdade . Saiba tolerar e respeitar o pensamento , se vossa excelência acadêmico ficou ofendido fale, não fispdando ironias , vá ao ponto , não ficaualificando e

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  18. Cheguei até esta postagem depois que meu senso crítico me alertou em relação a alguns vídeos do Eduardo Marinho, assim como isso se manifesta em relação a outras pessoas e temas
    Também achei o texto longo, às vezes confuso. Poderia ter sido mais sintético, com uma linguagem mais simples, se quer atingir um maior número de pessoas.
    Não defendo nenhum extremo, acho que Direita, Esquerda, Capitalismo, Comunismo, tudo tem seus prós e contras. É preciso equilíbrio.

    Penso que a ideia que deve ficar para cada um é: TENHA SENSO CRÍTICO!
    Estude, leia, ouça, discuta (sem brigar), pondere...
    E tudo bem se mudar de opinião. Mas respeitando àquelas divergentes.


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