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MBL censurado?!


O jogo político criado pelo MBL é complexo. O caso recente envolvendo a derrubada de quase 200 páginas e perfis ligados ao grupo, que estão sendo acusados de produzir fake-news, revela um pouco da complexidade desse jogo, que vem por eles sendo categoricamente chamado de “o escândalo da censura” numa tentativa de hipervalorizar um fato corriqueiro envolvendo grandes empresas de comunicação como o facebook. Em primeiro lugar, não devemos confundir o Movimento Brasil Livre com seus principais representantes e defensores: Kim Kataguiri, Renan Santos, Arthur do Val e Fernando Holliday. Estes são apenas como testas-de-ferro que ganharam uma certa função de dirigência no movimento construído artificialmente por grandes financiadores, como empresários, parcela do capital internacional e diversos apoiadores.
O MBL cumpre importante papel na defesa de pautas econômicas, políticas e morais das classes dirigentes. Por isso, sua relação com a classe trabalhadora é sempre no sentido de justificar as brutais ações do capital no sentido de amenizar contradições típicas de sociedades capitalistas que são mais acentuadas em países de capitalismo dependente. A recompensa desses novos líderes carismáticos vem sendo a projeção no cenário dos formadores de opinião da direita principalmente na internet que tem muitos jovens como consumidores da visão neoliberal, valores conservadores e neofascistas; e a inserção na vida política institucional numa disputa por cargos na burocracia estatal, coisa que em 2014, por exemplo, diziam não ter qualquer interesse concreto, o que já sabíamos ser uma mentira.
            Acusar o MBL de produzir fake News na verdade é uma redundância tremenda, portanto, uma falsa questão. O facebook certamente tem os seus mecanismos para não deixar a contradição transbordar. Não se trata de censura contra a direita, mas de interesses políticos concretos tendo como importante fator as eleições, pois não se investiu tanto para este momento a toa.
De uma forma geral, o MBL serve como um moedor de qualquer discurso, manifestação ou valores que diz respeito a setores de esquerda como anarquistas, marxistas, autonomistas, sindicatos, movimentos sem teto e sem terra, indígenas e quilombolas, partidos políticos progressistas/reformistas ou social democratas construindo falsamente a ideia de que todos são uma coisa só sendo a encarnação desse mal maior o PT, que segundo eles são comunistas.
O MBL de uma forma geral tem importante função de falsificar a história das lutas operárias imprimindo narrativas que agem em conformidade com a criminalização desses movimentos populares no sentido de converte-los em algo inofensivo ao capitalismo, respeitando a democracia burguesa e suas formas de dominação através do mercado. Produzem visões esquemáticas, rasas, falsas e espetaculosas sobre as manifestações populares e ações de grupos organizados que radicalizam as lutas nos grandes centros urbanos ou no campo. Justificam todo tipo de opressão relativizando o racismo, o machismo e o autoritarismo histórico das forças armadas contra os trabalhadores mais pobres e segmentos de esquerda organizados. Negam ter existido ditadura. Nas universidades e escolas, o MBL tem como foco esterilizar e neutralizar todo e qualquer tipo de pensamento crítico, restando apenas a crença mítica no capital e em suas divindades religiosas. Combatem professores e estudantes de esquerda como se fossem criminosos ou futuros criminosos. A universidade para eles não representa nada mais que um núcleo de esquerdistas, por isso, carece de qualquer valor social.
Vê-se, portanto, que o problema maior não é a censura, pois o próprio MBL estimula a censura cotidiana a qualquer manifestação estranha aos seus próprios valores e interesses mais urgentes. Estimulam não só a censura, mas a repressão direta com o uso de violência contra os movimentos sociais populares de esquerda. O problema maior aí foi terem sido contrariados num importante momento em que mais precisam de seus canais para propagar todo esse conjunto de elementos conservadores visando fortalecer a si próprios e seus aliados que também contam com sua força política como importante moeda de troca.

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