O
cenário político de uma forma geral está caótico. 2013 foi apenas a largada de
um processo muito mais amplo ainda por vir. Agora há um mal estar generalizado,
impregnado, onde o medo, angústia e incerteza dobram os sujeitos emparedando-os,
asfixiando a sociedade de uma forma geral, mas, sobretudo, os mais pobres são
os mais prejudicados. São momentos históricos como estes que podem apontar para
a completa degenerescência ou um caminho para sua possível emancipação através
da superação de contradições evidentes que naturalizou um mundo dependente do
modelo sócio econômico mercadológico onde os antagonismos sociais não parecem
um problema em si, mas parte constitutiva e necessária da sociedade que aí está
legitimando a dominação do homem sobre o homem.
Esse
mal estar é resultado de uma vida social cada vez mais debilitada do ponto de
vista da própria sobrevivência das pessoas, que ironicamente se explica por uma
necessidade de reorganização do campo social de acordo com os critérios
estabelecidos pela burguesia que tenta a todo custo convencer toda a sociedade
a defender com afinco o seu projeto: o fascismo. Há aí uma questão concreta, objetiva
diante de nós.
A
função do historiador é reaver o passado através de um debate crítico sem
manipular os fatos em favor de um determinado status social. O fascismo aí
está, mas ele não chega a ser uma novidade. De uma forma geral, onde há
capitalismo há fascismo. E o fascismo é elemento útil às forças dominantes. Ele
é a exacerbação do projeto político capitalista em seu momento de crise
acentuada. O fascismo é o time que está no banco de reservas e entra em campo
quando dá ruim. Mas ele tem que se legitimar, e há aí toda uma engenharia. Ele
não pode assumir-se como tal por uma questão objetiva. Ele já demonstrou
fracassar, mas na falta de um projeto revolucionário surge como novidade em
nova roupagem.
E
como se ganha a população para o fascismo em tempo record como vem acontecendo?
Através do investimento maciço em propaganda e construções narrativas
absolutamente descoladas da realidade, mas que por agir em redes articuladas e
captar certas insatisfações comuns organiza isso na forma de nacionalidade
supostamente hegemonizando o consenso na defesa do interesse geral. Esse
patriotismo, no entanto, é a parte mais débil do fascismo hodierno. Ele
mostra-se na prática como entreguismo aos interesses do capital imperialista. Quando
essa engenharia não é o suficiente torna-se necessário o uso da violência. Mas
é bom lembrar que o fascismo não existe sem o uso indiscriminado da violência.
A violência é condição sine qua non ao fascismo. Por isso nas narrativas sempre
tem um tom acusatório que indica o próximo ataque legitimando suas ações
truculentas na base de uma suposta defesa que enquadra um campo social maior.
O
problema no Brasil chegou a um nível de acirramento colocando na ordem do dia
diversas possibilidades, nenhuma delas descolada de um fim trágico. A opção
latente que se tem colocado é uma ditadura, ainda que velada por diversas
manobras em ludibriar a população e o mundo. A população tem cada vez mais
aderido ao discurso de ódio, dando vazão aos enunciados de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro é um testa-de-ferro ludibriado com um poder momentâneo, mas que tomou
para si uma missão civilizacional historicamente pautada no militarismo e no
autoritarismo direto contra os civis. Sua função é meramente representar um
conjunto de interesses prementes nesse momento para salvar a economia
capitalista evitando ou pelo menos postergando seu colapso administrando aqui e
ali algumas questões fundamentais para o seu funcionamento ao passo que
massacra a classe trabalhadora e suas organizações históricas.
O
imaginário fascista é permeado pelo medo da classe trabalhadora se organizar,
pois dessa forma as elites não teriam qualquer função. A história do PT
comunista incrivelmente colou passando de espantalho a realidade. Não podemos
discutir aqui simplesmente o caráter irracional desse tipo de leitura de mundo,
mas como superá-lo, já que de onde vem este tipo de prática e enunciado não resta
nada mais que o enfrentamento direto contra essas forças. Mas enfrentar essas
forças requer qualificar-se, preparar-se para o embate, organizar a luta e os
segmentos que sofrem diretamente a ação do fascismo alertando-os para o que
lhes espera. Com fascismo não se brinca.
É
preciso pensar, pensar e agir, já dizia um camarada que se foi. É preciso
exercitar o pensamento, mas aplicá-lo, colocá-lo em prática. É necessário, para
isso, socializar nossa leitura de mundo. Não há fórmula mágica para superar o
atual estado de coisas marcado pelas intensas disputas e pelo massacre
promovido pela classe dominante e suas classes auxiliares, pela polícia,
justiça e demais aparatos. Qualquer olhar minimamente atento não tem dúvida que
vivemos sob o reino da barbárie. A questão que agora se coloca para nós é da
ordem da organização dos trabalhadores como forma de tomar a dianteira das
mobilizações.
Numa
sociedade onde todos clamam por segurança ao invés de liberdade e igualdade, há
um problema muito grave aí. Numa sociedade onde a polícia mata, se prova de
todas as formas sua cumplicidade com o crime e nada acontece nem aos indivíduos
policiais muito menos com a instituição, nos soa como um verdadeiro escárnio do
poder, uma provocação onde o Estado burguês atesta sua superioridade e total
arbitrariedade com relação ao restante da sociedade. O que o Estado diz é que
continuará cometendo crimes o quanto for necessário sem que isso seja um
problema para ele. Mas agora o faz com a aprovação de boa parte da população,
que atesta o seu próprio fim nas mãos de um ditador enlouquecido.
As
disparidades são percebidas a olhos nus, sem que isso gere qualquer alteração
ou convulsão social. A miséria em si e as desigualdades já não são capazes nem
mesmo de sensibilizar os que sofrem em prol de um movimento suficientemente
forte para não só intimidar a impunidade estatal e o fascismo que aí se anuncia,
mas que seja capaz de julgar seus carrascos. Nesse sentido, a organização da
classe trabalhadora surge como necessidade premente para sua própria
sobrevivência. É necessário organizar fóruns antifascistas que tenham uma
proposta diferenciada dos partidos políticos, que falam de fascismo da boca
para fora, como se somente agora com ascensão de Jair Bolsonaro essa ameaça
fosse real. Ela apenas se materializou de forma mais clara e dessa vez
defendendo um projeto abertamente fascista com forte caráter popular. Os
partidos em geral não estão interessados em combater o fascismo pois não abrem
mão do processo eleitoral como forma de equalizar as contradições do capital.
Por outro lado, sabemos que o fascismo avançará sobre todas as forças que
considera nociva ao coesionamento da coletividade mitificada. Ou seja, o
fascismo não diferencia anarquistas de social democratas, autonomistas,
feministas, comunistas ou libertários. Para o fascista, toda a esquerda deve
ser literalmente varrida da sociedade. Isso nos força a pensar sobre o sentido
da unidade.
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